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quinta-feira, 17 de junho de 2010

ENFERMAGEM EM HOME CARE

A assistência domiciliar é um tema que atualmente traz muita discussão entre profissionais da área da saúde e entre administradores. Essa modalidade de assistência, também conhecida como home care (do inglês, cuidado do lar), pode ser definida como um conjunto de procedimentos hospitalares possíveis de serem realizados na casa do paciente. Abrangem ações de saúde desenvolvidas por equipe interprofissional, baseadas em diagnóstico da realidade em que o paciente está inserido, visando à promoção, à manutenção e à reabilitação da saúde.
Nos EUA (pioneiro nesta atividade), o hospital de Boston, em 1780, implantou o home care. Em grande parte, esses serviços foram formados por associação de enfermeiras visitadoras, fundada por mulheres, de cunho filantrópico. Em 1885, com o aumento de trabalhos nessas perspectivas, houve estabelecimento da primeira Associação de Enfermeiras Visitadoras (Visiting Nurses Association - VNA). Em 1947, o Hospital de Montefiori, em Nova York, introduziu conceitos de home care como sendo uma extensão do atendimento hospitalar. O número de serviços cresceu após a Segunda Guerra Mundial. Em contrapartida, as visitas domiciliárias realizadas por médicos começaram a declinar, ressaltando trabalhos de enfermeiras visitadoras (VNAs). Atualmente, nos EUA, a indústria de home care continua crescendo, existem dados de 18,5 mil serviços nos EUA.
Alguns estudos também se referem à existência de assistência domiciliar no sistema de saúde europeu. Um dos motivos de implantação foi devido a fatores como envelhecimento, elevação de custos e novas políticas em cuidados à saúde. Mostram, também, que, entre os países europeus, há um "pacto pela saúde entre os vários atores sociais e uma integração entre as estruturas pública e privada".
Não há muitos registros formais sobre a história da assistência domiciliar no Brasil; o que mais se encontra são depoimentos de pessoas que viveram ou estão vivendo o desenvolvimento dessa modalidade. As primeiras atividades domiciliárias desenvolvidas no Brasil aconteceram no século XX, mais precisamente em 1919, com a criação do Serviço de Enfermeiras Visitadoras no Rio de Janeiro. Em 1949, foi criado o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU). Principais responsáveis por esse serviço foram os sindicatos de trabalhadores insatisfeitos com o vigente atendimento de urgência. Qualquer médico do plantão saía em ambulâncias para o atendimento. A demanda era feita via telefônica, diretamente aos postos de urgência. Havia visitas domiciliares regulares por médicos a previdenciários com doenças crônicas.
Nos anos 60, foi observada uma valorização dos âmbitos familiares comunitários, com espaço para atendimento de saúde, tendo ocorrido, no mesmo ano, a implantação do programa pioneiro de assistência domiciliar do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPESP). A partir de então, foram surgindo vários outros serviços, privados e públicos, cada qual se moldando às necessidades de sua clientela. Foi um serviço criado para atender basicamente pacientes com doenças crônicas que pudessem ser acompanhados no domicílio, convalescentes que não necessitassem de cuidados diários de médicos e enfermeiros, portadores de enfermidades que exigiam repouso. Até dezembro de 1997, já haviam sido cadastrados, neste serviço, 11.144 doentes, com predomínio de patologias como neoplasias, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica.
A partir da década de 90, várias outras implantações de serviços de assistência domiciliar surgiram, como, por exemplo, na Volkswagem do Brasil. Ainda houve implantações em prefeituras, hospitais públicos e privados, cooperativas médicas, seguradoras de saúde, medicina de grupo, entre outros.
O que pode ser verificado é que muitos dos serviços de assistência domiciliar estão dividindo sua forma de assistência basicamente em: visita domiciliar, atendimento domiciliar e internação domiciliar.
Visita domiciliar pode ser entendida como atendimento realizado por profissional e/ou equipe de saúde na residência do cliente, com o objetivo de avaliar as necessidades deste, de seus familiares e do ambiente onde vive, para estabelecer um plano assistencial voltado à recuperação e/ou reabilitação. As visitas são realizadas levando-se em consideração a necessidade do cliente e a disponibilidade do serviço. São realizadas orientações às pessoas responsáveis pela continuidade do cuidado no domicílio.
Por atendimento domiciliar, compreendem-se as atividades assistenciais exercidas por profissionais e/ou equipe de saúde na residência do cliente, para executar procedimentos mais complexos, que exigem formação técnica para tal. Também são realizadas orientações aos responsáveis pelo cuidado no domicílio, e a periodicidade do atendimento é realizada de acordo com a complexidade do cuidado requerido.
Internação domiciliar são atividades assistenciais especializadas, exercidas por profissionais e/ou equipe de saúde na residência do cliente, com oferta de recursos humanos, equipamentos, materiais e medicamentos, assemelhando-se ao cuidado oferecido em ambiente hospitalar (instalação de um mini-hospital). A permanência de profissionais de enfermagem junto ao cliente é pré-estabelecida (6, 12 ou 24 horas). Também ocorre orientação ao responsável pelo cuidado no domicílio.
Independente da modalidade oferecida (visita, atendimento ou internação domiciliar), o cliente deve receber suporte de um serviço 24 horas para atendimentos de urgência e emergência, ou, até mesmo, para um transporte para exames diagnósticos ou orientação (alguns serviços contam com esse suporte). A maioria dos serviços conta com uma central telefônica 24 horas para execução desses atendimentos em qualquer horário.
As vantagens com relação a essa modalidade de assistência são várias. Há maior humanização no tratamento, diminuição de internações e tempo de permanência em hospitais. Ainda pode ser levado em consideração outro benefício muito importante, porém de difícil mensuração, que seria a satisfação do paciente e de seus familiares ao ter seu tratamento realizado em seu lar.
Integra-se a uma boa e moderna administração hospitalar a busca por redução de custos, em conjunto com assistência mais humanizada, que proporcione melhor qualidade de vida, principalmente a pacientes crônicos, terminais e idosos. A assistência domiciliar, sem dúvida, inclui-se nessa visão administrativa, e foi em busca dessa filosofia que o Hospital São Francisco (HSF) criou, em 2001, o seu serviço.

Revista Latino-Americana de Enfermagem (Print version ISSN 0104-1169)

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